Xilofone Prancha e Escalas Pentatônicas

Por Roberto Luis Castro

Nossa história inicia quando, em algum momento, eu resolvi fazer um xilofone que fosse pequeno, leve e fácil de transportar e armazenar. Assim surgiu o Xilofone Prancha. Prancha porque as barras sonoras estão apoiadas sobre uma peça de madeira inteiriça, na qual eu fiz um recorte para criar uma cavidade que funciona como espaço de ressonância para as unidades sonoras. Com 05 notas, naturalmente preferi adotar uma afinação em escala pentatônica: C,D,E,G,A. Apesar de ter experimentado com outras quantidades de barras, o modelo com a pentatônica maior em Dó terminou se firmando como padrão.

Aqui entra a primeira personagem: a professora Carmen Mettig Rocha, não apenas incorporou a ideia, como também me sugeriu produzir três unidades, variando a afinação em cada um dos xilofones, para obter uma série de cadências harmônicas com as escalas pentatônicas. Deste modo, tivemos a seguinte progressão: Xilofone 1) C,D,E,G,A; Xilofone 2) F,G,A,C,D; Xilofone 3) G,A,B,D,E.
Poderíamos ainda pensar em sequências de escalas mantendo a pentatônica em Dó: 1) C,D,E,G,A; 2) D,E,G,A,C; 3) E,G,A,C,D; e assim sucessivamente, num jogo criativo bem interessante do ponto de vista da improvisação melódica e harmônica.

Algum tempo depois, surge a segunda personagem. Numa das suas vindas a Salvador, a professora Josette Feres, de Jundiaí-SP, se interessou pelo Xilofone Prancha, mas apresentou um outro desafio: construir um par de instrumentos, sendo um afinado com a pentatônica maior em Dó e o outro com uma escala pentatônica exótica, que na ocasião ela deve ter explicado qual objetivo tinha em mente, mas confesso que não lembro muita coisa da nossa conversa. O certo é que ela encomendou os dois xilofones, os quais conserva e utiliza até a atualidade. Mas qual seria essa “escala exótica”? Seguindo sua orientação, o xilofone 2 ficou com a seguinte afinação: C,D,Eb,G,Ab.

Os instrumentos de Josette Feres
Foto gentilmente cedida por Helen Vilela Penna

Agora entra em cena a terceira personagem dessa pequena história, a professora Helen Vilela Penna, frequentadora assídua dos cursos de formação na Escola de Música de Jundiaí, através da mesma Josette Feres e da sua filha Luciana Nagumo.
Helen, uma educadora musical de MG, me perguntou se eu ainda confeccionava aqueles xilofones e me enviou a foto que reproduzi acima, acrescentando ainda a sua expectativa de adquirir também um par de Metalofones Prancha com o mesmo padrão de afinação. Sim, porque nesse meio tempo, passei a produzir também o mesmo protótipo de instrumento, usando as lâminas de metal. Desse modo, ela poderia incentivar as crianças a responder a jogos melódicos, reproduzindo no metalofone as frases tocadas no xilofone e vice-versa. Entre outros objetivos que podem ser desenvolvidos com esse material sonoro.

Instrumentos adquiridos por Helen para as aulas de Musicalização Infantil
Foto gentilmente cedida por Helen Vilela Penna

E é exatamente a partir desse resgate da ideia da Josette Feres, que surge a minha preocupação em investigar melhor essa questão da “escala pentatônica exótica”.
Trata-se de uma escala utilizada no Japão, que pode ser identificada pelo nome de “Escala Hirajoshi” (também conhecida como escala pentatônica japonesa). Ora, esta é apenas uma das muitas modalidades e denominações desse tipo escalas pentatônicas.

A Hirajoshi é uma escala atribuída ao instrumento japonês Koto, que por sua vez tem origem chinesa.

Existe um interesse muito grande por parte de instrumentistas, principalmente estudiosos de guitarra, teclado e até mesmo de percussão, (Handpan, Hang drum, Steel tongue drum, etc.) pelas escalas pentatônicas orientais, entre elas a Escala Hirajoshi, e a Escala Akebono (veja o segundo vídeo logo a seguir).

O assunto possui certa complexidade do ponto de vista musicológico, e analisar em profundidade fugiria ao objetivo desta postagem. Apresento a seguir uma pequena descrição transcrita do blog “Mestre da Guitarra”. (2)

…”Hirajoshi é uma pentatônica que possui uma estrutura de intervalos disposta em (Tom – Semitom – 2 Tons – Semitom – 2 Tons). Isto significa que a escala Hirajoshi tem Um Tom de distância da primeira nota para a segunda, um SemiTom de distância da segunda nota para a terceira, Dois Tons de distância da terceira nota para a Quarta, Um Semitom de distância da Quarta para a Quinta nota da escala e finalizando Dois Tons da Quinta para a Sexta nota da escala.
Veremos os exemplos na Tonalidade de “A – Lá”, em que temos na Escala as seguintes notas: (A – B – C – E – F – A).
A fórmula para essa escala é (1 – 2 – b3 – 5 – b6), o que significa:
1 = Fundamental, 2 = Segunda Maior, b3 = Terça Menor, 5 = Quinta Justa e b6 = Sexta Menor.”

Como vimos, o autor do texto apresenta a notação no tom de Lá, e no nosso caso, transpondo para Dó, temos:
(C – D – Eb – G – Ab … ) omitindo apenas o último intervalo, (e a nota C) já que o Xilofone Prancha possui apenas 05 barras.

Transcrevo aqui um outro trecho, compilado do texto complementar fornecido pelo canal colombiano “Clasesdeguitarra.com.co” no YouTube: (3)

...”5. la escala Hirajoshi
La ultima de nuestras escalas exóticas hechas sobre pentatonicas que vamos a estudiar por hoy
funciona de la siguiente forma.
Tonos: T-1/2-2T-1/2-2T
Intervalos: 1-2-b3-5-b6
Aplicación sobre la nota C: C D Eb G Ab
Esta escala es muy similar a una escala menor, podemos usarla sobre acordes de este mismo tipo.”

Portanto, tônica, segunda maior, terça menor, quinta e sexta menor, são os componentes essenciais dessa escala, que é frequentemente associada à canção folclórica infantil japonesa “Sakura, Sakura”. (4)
Se escutarem com atenção, verão que a execução neste vídeo, baseada em instrumentos do tipo Orff mais teclado eletrônico, está na tonalidade de “Lá”, conforme a exemplificação de Sabóia, acima (A,B,C,E,F,A).

VÍDEO 01:


Sakura, Sakura (música folclórica japonesa) Rede Artes Igreja Batista Um Novo Tempo (4)

VÍDEO 02:


C AKEBONO Scale examle * Shamba Steel Tongue Drums (5)

FOTOS DOS XILOFONES E METALOFONES PRANCHA:

 

 

  

 

 

Por último, um vídeo comparativo entre dois xilofones prancha, demonstrando a escala pentatônica maior e a escala pentatônica japonesa, seguido de mais vídeos dos xilofones e metalofones prancha produzidos pelo autor.

VÍDEO 03:

VÍDEO 04:

VÍDEO 05:

VÍDEO 06:

Fontes citadas:

(1) https://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_Hiraj%C5%8Dshi
(2) http://mestredaguitarra.blogspot.com/2009/08/escalas-exoticas-japanese-scales-por.html?m=1
(3) https://www.youtube.com/clasesdeguitarracomco
(4) https://youtu.be/zg8eX0bc7qI
(5) https://youtu.be/Ijd-jfbGtIM