Matéria Jornal O Globo – 1985

O GLOBO

Rio de Janeiro, terça-feira. 10 de setembro de 1985 — Número 177
Jornais de Bairros Zona TIJUCA

No Sesc, iniciação musical com o artesanato indígena

A doce música que vem da natureza

Alberto Jacob

image002O Encontro de Educação Artística, no Sesc, revelou um talento, Roberto Luis,
que empolgou com seus instrumentos artesanais.

image004Com versatilidade, Roberto mostrou como faz e como funcionam seus instrumentos.

O II Encontro Regio­nal de Educação Artística da Cidade do Rio de Janeiro, no Sesc-Tijuca, movimentou a arte em vários planos: com oficinas de gravura, música e artes cênicas; palestras e debates e nas salas de conversa, onde desfilaram, entre outros, o compositor Ney Lopes (“Salgueiro: 100 anos de cultura negra”) e Ricardo Cravo Albim (“Necessidade dos espaços culturais da cidade”).

Mas, um dos momen­tos mais instigantes do Encontro ocorreu, sem dúvida, no Laboratório de Som. Lá, o baiano Roberto Luis de Castro encontrou seu primeiro espaço no Rio para mostrar uma proposta de trabalho que empolgou a própria FUNARTE: a iniciação musical pela experimentação com objetos sonoros artesanais.

Utilizando matérias-primas da própria natureza, Roberto cria e constrói instrumentos sonoros e musicais, tendo por base o artesanato indígena e africano. Utilizando bambu (indiano e agreste), madeira (catruz, jacarandá da Bahia, jatobá), cana brava, taquara, cabos de vassoura, canos de PVC e metal, o artista explora as potencialidades dessas matérias-primas de baixo custo (“está tudo na natureza, é só sair e garimpar”) e constrói instrumentos variadíssimos de inimagináveis possibilidades sonoras. Assim, ele expôs cerca de 200 instrumentos, desde xilofones (20 diferentes modelos) até uma variedade de flautas. Os instrumentos de percussão vão desde clavas, blocos de dois sons, afoxés, marimbas, balafones, liras, até chocalhos de peneira, cabaça e bambu. Os de sopro incluem, alem de flautas, apitos, clarinetas, ocarinas, berrantes, trombetas e buzinas.”

Com a familiarização de métodos musicoterapeuticos utilizados na recuperação de indivíduos portadores de neuroses e outros males psicossomáticos, Roberto Luis mergulhou na proposta de pesquisar a construção de instrumentos musicais e, depois, partir para ensinar a confecção pelos próprios alunos (ou pacientes, num plano terapêutico) desses instrumentos:
— A vantagem primordial deste método terapêutico pode ser avaliada como um resgate da capacidade de realização e de auto-valorização da pessoa humana.

A proposta de Roberto é tão instigante que o coordenador de Educação Musical da FUNARTE, Leonardo Sá, pretende espalhar o projeto pelo país no próximo ano: Roberto vai montar oficinas de criação em vários pontos do país. Enquanto isso, Roberto já tem garantido um espaço na Bienal de Compositores Eruditos e Contemporâneos que a FUNARTE promove em novembro. Durante o evento, ele montará uma oficina de criação

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